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domingo, 29 de abril de 2012

♥-te.

Sinto a tua falta tia. De quando me passavas as mãos tão suaves na pele que fechava automaticamente os olhos já que gostava de as sentir deslizar, com toda a calma e leveza que só tu entendias...
Hoje fui ao hospital e não foi mais que meu espanto entrar no mesmo quarto em que te vi morrer. E no lugar do paciente não vi mais que os teus olhos dourados, os teus belos olhos dourados. De repente entra o médico que te operou e que nos deu a noticia, uma enfermeira que me fez lembrar quando ficava contigo à noite e tinha de carregar na campainha quando precisava de ser mudado o soro.
As recordações saltaram-me todas à vista, mal sabia eu que me vias de lá de cima.. Hoje tenho certezas. Porque aquele quarto mostrou-me muita coisa. Falou-me da minha força, da tua, daquela força que nos unia. Avó, tia. Para mim eras uma das avós que não tive presente. Era a ti que eu ligava em pequenina quando a mãe não me deixava ir brincar ao parque. Eu chorava, gritava, tu aturavas-me. Ela dizia que não tinha tempo e eu só não compreendia, se me entendes. Agora bem que me deixo encostar na cadeira a rir destas coisas. Mas lembro-me tia, levavas-me muito a sério. Como é que é possível amares tanto a inocência de uma criança, a minha. O meu jeito meio abandalhado de falar e aquela minha carita de reguila que pensava que sabia tudo..
Sabes uma coisa? Pensei muito antes de escrever este texto. E sou sincera, as lágrimas estão a deslizar pela minha face com uma suavidade incrível. Por um lado não queria que isto acontecesse: Veres isto é um sinal de fragilidade da minha parte, parte essa que nunca gostei de te mostrar. Sempre quis que soubesses o quanto sei ser forte, destemida determinada... TU. Mas acho houve um lado meu (de certa forma desconhecido) que despertou em mim o desejo de te ter mais perto uma vez mais. Não entendo a morte, não entendo a razão de ela nos levar pessoas que tanto amamos. Talvez seja uma forma que a vida arranja para nos tornar mais fortes. Mas como é que levar pessoas tão boas quanto tu é explicação para existirem motivos para a vida nos tornar assim? É duro saber que já só te posso ter nos pensamentos. É cruel, claramente cruel saber que já não podes estar presente. Só pedia isso, a tua presença. O teu jeito incondicional de saberes amar e ser fria ao mesmo tempo... Entendes o que tento dizer? Era deslumbrante a tua forma de conciliar duas formas tão distintas. Não tive a possibilidade de aprender isso contigo mas tenho a confiança de que o tempo me ensine muitas coisas às quais ainda não estou habituada. Espero que a maturidade se venha a revelar alguma coisa mais natural em mim, que aprenda a dar mais valor a quem me dá valor e a não julgar aqueles que me julgam. Tu vais estar sempre presente na minha vida. Tu, a tua verdade, a tua razão. São coisas que vou guardar para sempre aqui dentro, seladas, bem amarradas. Coisas que não saem daqui nem por nada, tia. Avó.
Sara M. Silva

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