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segunda-feira, 31 de maio de 2010

SIDA, SIDA

Acordo, numa cama de hospital. O quarto onde me encontro é pintado com cores frias e sinto um cheiro um pouco estranho, “cheiro de hospital”, como eu dizia em pequeno. 
Sinto-me agora um bebe, no meio de quatro paredes que recolhem todo o frio para o seu interior, enquanto encolho os membros superiores contra o peito. Sufoquei numa partícula de tempo.
Os lençóis são brancos ou cremes, não consigo distinguir pormenorizadamente pois a cor parece um pouco gasta, com certeza pelas inúmeras lavagens a que se têm submetido.
E quando olho, com a esperança de te ver, não te encontro. Agora, só leio aquilo que a minha mente mais memoriza. E aquela palavra rodeia-me e persegue-me, como que o Diabo filtrando uma alma.
De repente recordo o passado. E estou sozinho no mundo, sem gesto nem feitio. Já não posso chegar na minha empresa e gritar com um grau de soberania. Estou falido. Falido de amor, de dinheiro, de paz. E a saúde já nem me resta. Eu admito, mereço..
Agora, levanto-me da cama hesitando por um espaço mínimo de segundos. 
As minhas pernas tremem a cada passo que dou em frente. E quando recuo, tenho medo de cair, adormecer e jamais acordar.
A minha cabeça roda como que um ginasta profissional. 
Durarei menos de um dia, meu mundo cruel. E novo, contudo decadente, só reparo, o quanto errei em todos os anos que vivi. Quando me deixei amar sem medos e quando a dor que era dor eu não sentia. E deixei o mundo retirado do meu mundo.
Deus, dá-me agora uma oportunidade para mostrar a todos o quanto valho! Deixa-me falar-lhes de que quando opinava só o fazia apenas com o intuito de ser melhor, por eles. Para que lhes pudesse oferecer um emprego que eles nunca puderam usufruir em outro local. Para que os pudesse lisonjear em qualquer lugar, como um pai se babando pelos seus filhos. 
Eu sei.. Perdi todas as oportunidades que me deixas-te pela frente. Perdi tudo. E não foi por falta de avisos, muito menos por falta de conselhos. Perdi tudo pelo grande amor em que deixei a minha vida. Mataste-me de propósito sua garota ordinária. Mataste-me por querer.




O mundo é cruel porque nós mesmos somos cruéis com o mundo. Seja porque razões sejam.
(não sou um homem, sou um fraco. já não valho meramente nada)

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