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sexta-feira, 11 de junho de 2010

"Sair" do mundo

Tive de fugir. Fugi tanto do medo que tinha de ti, quanto do medo de meu amor quanto a ti.  E sabendo que nenhum dos dois eu poderia curar até que sarasse, esta foi a única solução que encontrei. Carreguei-me de umas roupas quentes, dentro de uma mala discreta e parti na anciã de me desvanecer no teu pensamento e aí me deixares ser livre. Tu sempre foste o predilecto, aquele que se destacava no meio de tantos homens embriagados que conheci na minha juventude, e agora, perplexa no meu entender, penso o quanto desejava, que tivesses sido tanto ou quanto pior que todos eles.  Talvez assim, não te tivesse amado tanto, nem ficar presa a ti quando na nossa primeira noite de amor, fiquei esperando um filho teu. O seu nome seria "Francisco Almeida". Imaginava tudo isto a cada pormenor, e já sonhava com as suas faces rosadas, os seus olhos azuis reflectidos nos meus e os seus cabelos loiros voando juntamente com a brisa do mar, por um dia ameno. E enquanto amava o que sentia crescer dentro de mim, já te desprezava quando com as tuas unhas me entranhavas a carne. Apesar de seres um cabrão pelo qual me apaixonei, continuava a amar-te, a querer satisfazer todos os teus caprichos, até mesmo os mais demoníacos.
Mas no dia do seu nascimento, quando o matas-te a sangue frio enquanto a criança gritava tão alto quanto o céu, prometi para com o meu coração, odiar-te até ao fim dos meus dias. E o sangue que espirrava na cara enquanto eu o tentava socorrer, até lambi. Na minha ultima tentativa, ao me atrever a empurrar-te com toda a minha misera força, já não valia mais a pena. A respiração daquele ser tão pequeno quando a minha mão, estava já sem sangue, sem nada me atrevo a dizer. Até minhas lágrimas ficaram tão assustadas que nem se atreveram a sair.  E eu fiquei perplexa durante dias e dias, no chão do quarto que com tanto carinho pintei de azul, enquanto de manhã me atiravas um naco de pão negro contra a cara.
Ninguém conseguirá substituir aquela criança que eu já amava mais que a mim mesma. Era a parte da minha descendência, e principalmente, era parte de mim.




E agora enquanto a paisagem fica mais escura á medida que a noite cai sobre o que olho lá no fundo, eu entrelaço o meu olhar, com uma lágrima que me sobrecarrega a face.

E agora o Futuro é um medo selado no tempo.

2 comentários:

  1. esta forte :O
    Escreves com tanto sentimento, minha Sara <3
    amo-te

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  2. Gostei muito do texto;)
    Quase que me senti dentro dele.
    As memórias do passado só têm que nos dar determinação para prosseguir no futuro e viver no presente.
    Beijinhos

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